Soja - Cobertura do Solo

O Sistema de Plantio Direto pressupõe a cobertura permanente do solo que, preferencialmente, deve ser de culturas comerciais ou, quando não for possível, culturas de cobertura do solo.Tal cobertura deverá resultar do cultivo de espécies que disponham de certos atributos, como: produzir grande quantidade de massa seca, possuir elevada taxa de crescimento, ter certa resistência à seca e ao frio, não infestar áreas, ser de fácil manejo, ter sistema radicular vigoroso e profundo, ter elevada capacidade de reciclar nutrientes, ser de fácil produção de sementes, apresentam elevada relação C/N, entre outras.

A pequena produção de palha pela soja, principal cultura dos Cerrados, aliada à rápida decomposição dos seus resíduos, pode tornar-se grande à viabilização do SPD, especialmente quando essa leguminosa é cultivada como monocultura. Para contornar essa dificuldade, a soja deve compor sistemas de rotação de culturas adequadamente planejados. Com isso haverá permanente cobertura e suficiente reposição de palhada sobre a superfície do solo, viabilizando o SPD.

Espécies para a cobertura do solo

As indicações das espécies a serem cultivadas para cobertura e produção de palha devem ser regionalizadas o máximo possível.

* Centro-Sul de Mato Grosso do Sul

Nessa região, as condições climáticas são favoráveis ao cultivo o ano todo, incluindo várias culturas de inverno, possibilitando um bom número de opções para a cobertura do solo, atendendo satisfatoriamente a um programa de rotação de culturas no SPD.

Outono - a semeadura das culturas de outono/inverno, em sucessão às culturas de verão, vai do início de abril até meados de maio, podendo ir até o final de maio, se houver boa disponibilidade de água no solo. São indicadas a aveia, o nabo forrageiro, a ervilhaca peluda, o centeio, a ervilha forrageira e outras produtoras de grãos como o trigo, o milho (safrinha), o sorgo, o triticale, a aveia branca, o girassol, o feijão e a canola. Resultados de pesquisa apontam melhores rendimentos com as seguintes sucessões, por ordem preferencial: soja após aveia, trigo, triticale, ou centeio; e milho após nabo forrageiro, ervilhaca peluda, canola, aveia.

Primavera - neste caso, indica-se o uso de espécies, principalmente para cobertura viva e produção de palha (milheto comum, milheto africano, sorgo e Crotalaria juncea). Em pequena escala, é possível cultivar o girassol, visando a produção de grãos. O milheto destaca-se como uma das principais culturas, devido ao seu rápido desenvolvimento vegetativo, pois atinge 5 a 8 t/ha de matéria seca aos 45 a 60 dias após a semeadura, proporcionando excelente cobertura do solo. O uso dessas alternativas, e principalmente do milheto, visa a reposição de palhada em área de plantio direto com deficiência de cobertura. Essa opção exige uma programação, visto que, em seqüência, vem a cultura da soja cuja semeadura ocorrerá já em final da sua época indicada (final de novembro a início de dezembro), praticamente inviabilizando a semeadura da safrinha de milho. Em sucessão ao girassol e à Crotalaria juncea, é indicada a semeadura de milho.

Safrinha - consiste na semeadura em época imediatamente posterior à indicada para a cultura, na safra normal, resultando geralmente em produtividades inferiores às normalmente obtidas. A principal cultura utilizada é o milho, que, nesse caso, deve ser semeado logo após a colheita da soja até, no máximo, 15 de março, quando esperam-se produções relativamente razoáveis de grãos e boa quantidade de palha. O girassol também pode ser cultivado nesse período, visando produção de grãos e supressão de plantas daninhas, podendo ser semeado até o final de março.

A "safrinha", mesmo que feita com espécie diferente da cultivada anteriormente, na época normal, deve ser utilizada com cuidado, visto que pode transformar-se em meio de propagação e disseminação de doenças e pragas, inviabilizando a própria cultura comercial principal. O cultivo do sorgo para grãos ou forragem, também é viável, mas para a produção de grãos, a semeadura vai até o final de fevereiro. O milheto é semeado nessa época, principalmente para produção de sementes, e sua semeadura vai até 20 de março.

Verão - o cultivo de leguminosas solteiras no verão apresenta excelentes resultados na recuperação e/ou no melhoramento do solo, mas isso geralmente implica na impossibilidade de cultivar soja ou milho em sua melhor época. Algumas tentativas de consorciação de leguminosas (mucuna-preta, calopogônio, feijão-bravo, crotálarias, etc.) com milho, arroz e girassol foram desenvolvidas na região e adaptam-se perfeitamente para consórcio com milho: mucuna preta, guandú, feijão-bravo do ceará e feijão de porco. O arroz com calopogônio também é uma forma de consórcio tecnicamente viável. Os consórcios não têm despertado interesse dos agricultores, devido algumas dificuldades de manejo e condução das culturas consorciadas, mas são perfeitamente viáveis nas pequenas propriedades.

O milho com guandú ou calopogônio são consórcios que permitem a mecanização normal das culturas envolvidas, adaptando-se para áreas maiores, como pode ser visto no capítulo sobre rotação de culturas.

Pastagens - a semeadura de soja sobre pastagem dessecada vem destacando-se como uma interessante forma de adoção do SPD, pois a pastagem apresenta excelentes coberturas viva e morta, contribui para aumentar a matéria orgânica do solo e permite a rotação de culturas. Essa tecnologia consiste na implementação da integração entre lavoura e pastagem, num sistema de elevada produtividade. Já existem alguns resultados de pesquisa disponíveis e experiências de sucesso com produtores na região, que dão suporte à indicação desse sistema de produção. O sistema é indicado para áreas de pastagem ainda com razoável capacidade de suporte de animais e fertilidade do solo, compatível com o cultivo de soja.

* Centro-Norte do Mato Grosso do Sul, Chapadões (MS, GO, MT) e Sul do MT

Em função das condições climáticas nessas regiões, a semeadura de espécies para cobertura e produção de palha fica muito limitada. Pode-se, no entanto, utilizar as fases inicial e final das chuvas para a semeadura de espécies visando a cobertura do solo. Em geral, são viáveis as semeaduras realizadas após a colheita das culturas de verão, soja ou milho, aproveitando as últimas chuvas do período e a umidade do solo. Tais semeaduras são chamadas de “safrinha”, e as espécies possíveis de serem cultivadas são: o milheto, sorgo, milho, girassol, nabo forrageiro, guandu e outros.

Eventualmente, com a ocorrência de chuvas antecipadas, no final de setembro, parte da área poderá ser semeada com milheto ou sorgo, a serem dessecados antes da semeadura de soja.

* Médio-Norte, Centro-Leste do Mato Grosso

A partir de alguns resultados disponíveis para a região de Lucas do Rio Verde, indica-se a semeadura de milheto, sorgo ou milho imediatamente após a colheita da soja (cultivar precoce, de preferência), de modo a permitir um bom estabelecimento das culturas de cobertura com as últimas chuvas do período.

Fonte: Embrapa