Soja - Pesquisa

O crescimento da produção e o aumento da capacidade competitiva da soja brasileira sempre estiveram associados aos avanços científicos e à disponibilização de tecnologias ao setor produtivo. Até o final dos anos 60, a pesquisa com a cultura da soja no Brasil era muito pouca e concentrava-se na Região Sul do País, atuando, fundamentalmente, na adaptação de tecnologias (variedades, principalmente) introduzidas dos EUA. O primeiro programa consistente de pesquisa com a soja estabeleceu-se na década de 1950, no Instituto Agronômico de Campinas, SP. Mas foi no RS, uma década mais tarde, que a cultura encontrou condições para se estabelecer e expandir como lavoura comercial, para o que foi fundamental a boa adaptação que as cultivares introduzidas dos EUA tiveram para as condições do sul do Brasil.

O rápido desenvolvimento do cultivo da soja no País, a partir dos anos 60, fez surgir um novo e agressivo setor produtivo, altamente demandante por tecnologias que a pesquisa ainda não estava estruturada para oferecer na quantidade e qualidade desejadas. Consequentemente, os poucos programas de pesquisa com soja existentes na região foram fortalecidos e novos núcleos de pesquisa foram criados no sudeste e centro oeste, principalmente.

De todas as iniciativas para incrementar e fortalecer a pesquisa com soja no País, implementadas a partir dessa época, merece destacar-se a criação da Embrapa Soja em 1975, que patrocinaria, já a partir do ano seguinte, a instituição do Programa Nacional de Pesquisa de Soja, cujo propósito foi o de integrar e potencializar os isolados esforços de pesquisa com a cultura espalhados pelo sul e sudeste.

Além do programa de pesquisa da Embrapa Soja no Paraná, outros programas de pesquisa com a cultura estabeleceram-se nessa mesma década pelo Brasil afora: Universidade Federal de Viçosa e Epamig em Minas Gerais; Emgopa em Goiás; Embrapa Cerrados no Distrito Federal; Coodetec, Indusem e FT-Sementes no Paraná; Fundacep no RS; Embrapa Agropecuária Oeste e Empaer no Mato Grosso do Sul, além do fortalecimento dos programas já existentes na Embrapa Trigo e Secretaria da Agricultura do RS e IAC em SP. Com o advento da Lei de Proteção de Cultivares na década de 1990, novos programas de pesquisa privados estabeleceram-se no País, dentre os quais merecem destaque a Monsoy, Fundação Mato Grosso, Syngenta, Pioneer e Milênia.

Até 1970, a preocupação maior dos programas de pesquisa de soja brasileiros era com a produtividade. Com menor ênfase, também buscavam a altura adequada das plantas para a colheita mecânica, a resistência ao acamamento e resistência à deiscência das vagens. Os problemas fitossanitários não preocupavam muito os pesquisadores da época. Foi somente a partir dos anos 80 que resistência a doenças como a Pústula Bacteriana, o Fogo Selvagem e a Mancha Olho de Rã passaram a constitui-se em características necessárias para a recomen-dação de uma nova cultivar. Posteriormente, problemas fitossanitários maiores surgiram, como o Cancro da Haste, o Nematoide de Cisto e o Oídio, ampliando a lista de exigências para a recomendação de novas cultivares.

É conquista da pesquisa brasileira o desenvolvimento de cultivares adaptadas às baixas latitudes dos climas tropicais. Até 1970, os plantios comerciais de soja no mundo restringiam-se a regiões de climas temperados e subtropicais, cujas latitudes estavam próximas ou superiores aos 30º. Os pesquisadores brasileiros conseguiram romper essa barreira, desenvolvendo germoplasma adaptado às condições tropicais e viabilizando o seu cultivo em qualquer ponto do território nacional. Somente no Ecossistema do Cerrado, mais de 200 milhões de hectares improdutivos foram transformados em área apta para o cultivo da soja e outros grãos.

A Embrapa Soja tem tido uma participação decisiva no avanço da cultura rumo às regiões tropicais, em função do modelo de parcerias com associações de produtores de sementes utilizado em seu programa de melhoramento genético. Esses parceiros incrementaram enormemente a capacidade de desenvolvimento de novas cultivares da Embrapa, Brasil afora, dando sustentação financeira e, consequentemente, agilizando o processo. Fruto desse modelo, as “cultivares Embrapa” respondem por mais de 50% do mercado nacional de sementes de soja. A oferta de cultivares foi acompanhada pela incorporação, tanto nas “velhas” quanto nas novas cultivares, de resistência às principais doenças que atacam a cultura no País.

O desenvolvimento de técnicas de manejo integrado de invasoras e de pragas possibilitaram uma redução sensível na quantidade de pesticidas utilizados no seu controle.

Estudos sobre a nutrição da soja possibilitaram melhor manejo da adubação e da calagem. A seleção de estirpes eficientes de R. japonicum enriqueceram os inoculantes, substituindo completamente a adubação nitrogenada na cultura da soja. Pesquisas com micronutrientes indicaram a necessidade de sua utilização para obter-se máximos rendimentos, particularmente nos Cerrados, assim como, trabalhos sobre manejo de solos e rotação de culturas, resultaram na substituição quase total do plantio convencional pelo direto.

O zoneamento agroclimático desenvolvido pela Embrapa Soja permitiu indicar as áreas mais aptas para a produção de soja no País, onde, produzir sementes de qualidade sempre foi um desafio, superado com tecnologias como o Diagnóstico Completo (Diacom), evolvendo princípios de vigor e patologia de sementes.

A caracterização dos principais fatores responsáveis por perdas no processo de colheita e a conscientização dos produtores sobre o volume dessas perdas e suas causas, possibilitaram a redução média das perdas, de aproximadamente quatro, para dois sacos/ha.

Estudos sobre características nutricionais e nutracêuticas da soja têm promovido o seu consumo via incorporação da soja na dieta alimentar da população brasileira.

Fonte: Embrapa