Soja - Perspectivas

Embora as estimativas que fazemos do futuro, tomando como referência as tendências dos cenários presentes, dificilmente se realizem com a precisão prospectada, suas indicações são úteis, mesmo quado os novos cenários não apresentam aderência total com os projetados.

Em realizando uma análise prospectiva sobre o intenso agronegócio da soja brasileira, tomando como referência a realidade atual, pareceria pertinente afirmar que:

* crescerá o consumo e consequentemente a demanda por soja no mundo, porque a população humana continuará aumentando;

* o poder aquisitivo dessa população continuará incrementando-se, destacadamente na Ásia, onde está o maior potencial de consumo da oleaginosa;

* o medo da doença da vaca louca manterá em alta o consumo de carne suína e de frango, cuja alimentação é feita, principalmente, com ração à base de farelo de soja;

* a proibição, na Europa, do uso de farinha de carne nas rações para bovinos, manterá alta a demanda por farelo de soja;

* os usos industriais não tradicionais da soja, como biodiesel, tintas, vernizes, entre outros, aumentarão a demanda do produto;

* o consumo interno de soja deverá crescer, estimulado por políticas oficiais destinadas a aproveitar o enorme potencial produtivo do País, que está excessivamente dependente do mercado externo;

* o protecionismo e os subsídios à soja, patrocinados pelos países ricos, tenderão a diminuir pela lógica e pressão dos mercados e da Organização Mundial do Comércio, aumentando, conseqüentemente, os preços internacionais que estimularão a produção e as exportações brasileiras;

* a produção dos nossos principais concorrentes (EUA, Argentina, Índia e China) tenderá a estabilizar-se por falta de áreas disponíveis para expansão em seus territórios;

* a cadeia produtiva da soja brasileira tenderá a desonerar-se dos pesados tributos para incrementar a sua competitividade no mercado externo, de vez que o País precisa “exportar ou morrer”.

* Pode-se estimar, também, pelas tendências do quadro atual da agricultura brasileira, que a produção da oleaginosa no País se concentrará cada vez mais nas grandes propriedades do centro oeste, em detrimento das pequenas e médias propriedades da Região Sul, cujos proprietários, por falta de competitividade na produção de grãos, tenderão migrar para atividades agrícolas mais rentáveis (produção de leite, criação de suínos e de aves, cultivo de frutas e de hortaliças, ecoturismo, entre outros), porque são mais intensivas no uso de mão de obra, “mercadoria” geralmente abundante em pequenas propriedades familiares, onde o recurso escasso é a terra.

Feitas estas considerações, parece racional acreditar positivamente no futuro da produção brasileira de soja, de vez que, dentre os grandes produtores mundiais da oleaginosa, o Brasil figura como o país que apresenta as melhores condições para expandir a produção e prover o esperado aumento da demanda mundial. Este País possui, apenas no ecossistema do Cerrado, mais de 50 milhões de hectares de terras ainda virgens e aptas para a sua imediata incorporação ao processo produtivo da soja. A área cultivada com soja nos EUA, Argentina, China e Índia, que juntos com o Brasil produzem mais de 90% da soja mundial, só cresce em detrimento de outros cultivos. Sua fronteira agrícola está quase ou totalmente esgotada.

Em última análise, o futuro da soja brasileira dependerá da sua competitividade no mercado global, para o que precisará, ademais do empenho do produtor, o apoio governamental, destacadamente na abertura e integração de novas e mais baratas vias de escoamento da produção. Iniciativas nesse sentido já estão sendo tomadas com a implementação dos Corredores de Exportação Noroeste, Centro-Norte, Cuiabá-Santarém e Paraná-Paraguai, integrando rodovias, ferrovias e hidrovias aos sistemas de transporte da produção agrícola nacional. Este esforço do governo é indispensável para que o País possa reduzir a importância desse item na composição dos custos totais da tonelada de produto brasileiro que chega aos mercados internacionais. O custo médio do transporte rodoviário é muito mais alto que o ferroviário e este mais caro que o hidroviário. Apenas para ilustrar, 16% da soja americana é transportada por rodovias, contra 67% da brasileira. Em contrapartida, 61% da soja americana viaja por hidrovias, contra 5% da brasileira.

Mesmo assim, o Brasil não precisa ter medo de competir. Já alcançou a produtividade média da soja dos EUA e tem condições de alcançá-los, também, na produção.

Fonte: Embrapa